Rio – A demanda brasileira por energia deve dobrar até o ano de 2050, passando de 267 para 605 toneladas de petróleo equivalente (TEP) por ano, com importante participação do gás natural e da eletricidade no transporte e nas residências. A projeção é do estudo Demanda de Energia 2050, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O trabalho aposta em novidades no cenário energético brasileiro, como a inserção em massa de veículos elétricos e o crescimento da geração distribuída de eletricidade em residências e indústrias. Com o esgotamento do potencial dos rios, a fonte hidrelétrica deve perder espaço na matriz energética nacional.
O estudo é a segunda etapa do trabalho de planejamento para o incremento da oferta de energia até 2050 que, segundo o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, deve ser concluído entre o final de 2014 e o início de 2015. No primeiro documento, divulgado na semana passada, os técnicos da entidade analisaram as premissas econômicas. Agora, tratam das projeções de consumo por indústria, transporte, agropecuária, comércio e residências. Nas próximas etapas, serão analisadas as fontes disponíveis para atendimento à demanda e como serão postas em operação.
No documento divulgado ontem, o grande destaque é a demanda por gás natural, que deve crescer 251%, para 218 milhões de metros cúbicos por dia, diante das perspectivas de crescimento da produção nacional, notadamente na área do pré-sal. Segundo as projeções, a participação do combustível na matriz energética brasileira passará dos atuais 7,6% para 11,2% em 2050. A fatia da eletricidade também sobe, de 16,6% para 23,2%. Derivados de petróleo e da cana e o grupo lenha e carvão vegetal, por outro lado, perdem espaço. O crescimento da demanda de energia, estimado em 2,2% ao ano, é inferior às projeções de alta do PIB, de 3,6%, resultado de políticas de eficiência e novas tecnologias.
Se o estudo anterior apontava para um cenário ainda mais caótico nas grandes cidades, com uma frota de 130 milhões em 2050 (três vezes maior do que a atual), o segundo volume apresenta, pela primeira vez, a possibilidade de inserção dos veículos elétricos no país, que podem contribuir para reduzir a poluição provocada pelo setor de transporte, hoje responsável por 49% das emissões de gases poluentes no Brasil. Ao final do período estudado, projeta a EPE, mais de 60% da frota brasileira de veículos leves será formada por carros híbridos ou movidos a eletricidade. Citando a Agência Internacional de Energia, o texto diz a “eletrificação” da frota apresenta papel fundamental por representar um dos mais promissores caminhos para redução de gases do efeito estufa e outros poluentes, além de aumentar a segurança energética.
Outra novidade apresentada é o crescimento da geração distribuída em residências no país, por meio de painéis fotovoltaicos — tecnologia já difundida em países europeus mas ainda incipiente por aqui. Com a redução do déficit habitacional e maior urbanização, a EPE estima que o número de domicílios crescerá dos atuais 63 milhões para 98 milhões em 2050. Com o aumento da renda, o consumo de energia por domicílios crescerá três vezes, para 1.570 quilowatts-hora (kWh) por habitante. O estudo estima que, a partir da redução dos custos dos painéis fotovoltaicos, a energia solar pode estar presente em 15% dos domicílios, atendendo 13% da demanda residencial brasileira.
A fonte também ganhará importância em edifícios comerciais, do poder público e na indústria, chegando a 2050 com uma potência instalada de 80 gigawatts (GW) e geração de 11,8 mil megawatts (MW) médios — ou 6% da carga total de energia — no cenário de referência. No cenário que considera incentivos governamentais, a capacidade sobe para 120 GW e a geração responde por 8,7% da carga total do Sistema Interligado Nacional (SIN). Este ano, o governo realiza o primeiro leilão específico para projetos fotovoltaicos no Brasil, para o qual oferece um pacote de financiamento desenhado especialmente para incentivar a inserção da fonte na matriz energética.
O estudo frisa, porém, que o papel do consumidor como agente no mercado de energia é um dos aspectos-chave que pode induzir a incertezas com relação às projeções sobre a demanda de energia. A evolução da mobilidade nos centros urbanos e a transformação dos modais de transporte de carga são outras, pois definem a demanda por combustíveis para o transporte, setor que hoje ocupa o segundo lugar na lista dos maiores consumidores de energia do país, atrás apenas da indústria. No setor industrial, as projeções apontam para grande crescimento dos segmentos de cimento, aço, químico, mineração, cerâmica e papel e celulose. Este último caso aparece como consumidor e como gerador, uma vez que a lixívia e os resíduos de madeira estão entre as fontes que apresentam crescimento de participação na matriz energética.
Fonte: Brasil Econômico – Nicola Pamplona
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