Em dois meses, estatal captou mais recursos do que o previsto em todo o plano de negócios 2014-2018; cresce rumor de que a classificação de risco da Petrobrás seja revista
11 de março de 2014 | 9h 55
SÃO PAULO – A Petrobrás precisou de apenas 69 dias de 2014 para captar um total de US$ 13,6 bilhões, ou R$ 32,1 bilhões, e, com isso, aproximar ainda mais seu nível de endividamento da marca de R$ 300 bilhões. Em dezembro, a dívida total da Petrobrás somava R$ 267,8 bilhões.
A projeção não considera a possibilidade de a Petrobrás utilizar parte dos recursos captados em duas operações, realizadas nos dias 7 de janeiro e ontem, para pagar dívidas a vencer no período. Da mesma forma, não inclui eventuais novas dívidas contraídas entre janeiro e março. Procurada, a Petrobrás não comentou a captação antecipada pelo Broadcast. De igual maneira, a estatal adota a postura de não comentar sua política de amortização de dívidas.
A marca de R$ 300 bilhões, embora meramente simbólica, ajuda a dimensionar o momento delicado pelo qual passa a estatal. Em dezembro passado, a alavancagem líquida, calculada a partir de uma relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido da companhia, estava em 39%, já acima do limite de 35% considerado aceitável pela diretoria da Petrobrás. A relação entre dívida líquida e Ebitda, por sua vez, estava em 3,52 vezes, superando assim o patamar desejado de 2,5 vezes.
O endividamento elevado alimenta rumores de que a classificação da Petrobrás pelas agências de rating pode ser revista caso os indicadores financeiros da estatal não se recuperem no curto ou médio prazos. A operação confirmada ontem, de US$ 8,5 bilhões, acontece às vésperas do encontro de uma comitiva da Standard & Poor’s (S&P) com empresários e o governo brasileiro.
“Se pensarmos em um movimento de cautela, a Petrobrás aproveitou um mercado líquido no exterior e fechou uma operação em um valor alto, provavelmente devido à demanda pujante e às taxas atraentes”, destaca a analista da Concórdia Corretora, Karina Freitas. A especialista lembra que a nota da Petrobrás, assim como de outras empresas controladas pelo governo de um país, tende a acompanhar as notas do próprio país. “Nesse caso, uma redução da nota (do Brasil) imputa um prêmio maior de bônus (à Petrobrás)”, relaciona Karina.
Além disso, outras notícias recentes também evidenciam o desafio enfrentado pela estatal em 2014. As importações de petróleo apresentaram forte elevação no início do ano e o dólar valorizado prejudica a Petrobrás, que se encontra na condição de importadora líquida de combustíveis. Os dados de produção de petróleo no Brasil também foram desfavoráveis, o que reforça o cenário traçado pela própria presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster.
No final de fevereiro, a executiva havia sinalizado que os indicadores financeiros da estatal devem começar a melhorar principalmente a partir de 2015. Segundo ela, o ano de 2014 já está “posto”. Ainda assim, a forte demanda pelos títulos da Petrobrás nesta segunda-feira, superando o patamar de US$ 20 bilhões, demonstra a receptividade do mercado externo à petrolífera brasileira.
Captação. Ainda que já esperada por analistas ouvidos pelo Broadcast, a operação chama atenção pelo fato de ser a segunda emissão externa em pouco mais de dois meses. Foram captados, no período, aproximadamente US$ 13,6 bilhões, superando assim a necessidade atual de US$ 12,1 bilhões citada no Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2014-2018 da Petrobrás.
No total, a Petrobrás deve captar US$ 60,5 bilhões até 2018. Durante esse mesmo período, as amortizações somarão US$ 54,9 bilhões. Não há, porém, qualquer relação direta entre captações e amortização de dívidas. Logo, o recurso captado ontem pode ser utilizado para pagar antecipadamente dívidas já contraídas ou simplesmente para viabilizar investimentos previstos para o ano.
“Se for utilizado para cumprir com as obrigações de curto prazo em relação a vencimentos ou antecipações de dívidas mais caras, falamos de um efeito zero (sobre a alavancagem). Mas se os recursos forem utilizados para reforçar caixa ou viabilizar investimentos, teremos um maior endividamento”, destacou Karina, da Concórdia. A possibilidade de a dívida ter atingido R$ 300 bilhões será confirmada ou não no balanço referente ao primeiro trimestre de 2014, a ser divulgado entre abril e maio.
Em janeiro, a Petrobrás realizou captações no exterior em euro, no total de 3,05 bilhões, e em libra esterlinas, no total de 600 milhões. Na oportunidade, a captação totalizou R$ 12,1 bilhões ou US$ 5,1 bilhões, conforme a cotação da época. Somados aos US$ 8,5 bilhões de ontem (R$ 20 bilhões), já são R$ 32,1 bilhões em recursos novos para a Petrobrás, o equivalente a pouco mais de um terço do investimento de R$ 94,6 bilhões previsto pela estatal para 2014. O montante também equivale a mais de uma vez e meia a dívida total de curto prazo da Petrobrás, estimada em R$ 18,8 bilhões ao final de dezembro.
Fonte: André Magnabosco – Agência Estado – Folha de São Paulo
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